domingo, 21 de outubro de 2007

FILOSOFIA: ATIVIDADE CRIATIVA E REFLEXIVA


O capítulo quarto do livro Conversações de Gilles Deleuze – filósofo francês, vinculado aos denominados movimentos pós-estruturalistas, categorizações que o próprio Deleuze questionava pelo que trazem, ainda, da visão e luta pelo idêntico - , contém entrevistas que discorrem sobre algumas concepções da Filosofia; sobre como esta se apresenta na atualidade, sua relação com a arte e a ciência; tem-se também uma reflexão sobre sua principal função: a criação.


Uma primeira crítica lançada à filosofia é, que no contexto dito modernismo, esta tem retrocedido, se refugiando na reflexão porque agora nada cria. E que por causa dos direitos dos homens todos os pensamentos e análises do movimento ficam estagnados. No entanto, este autor ressalta que o filósofo é um criador e não um mero agente reflexivo. Deleuze destaca que apesar de serem díspares os objetos da arte, da ciência e da filosofia, nenhuma dessas disciplinas têm privilégio uma sobre as outras, pois “cada uma é criadora”. Apesar de diferentes, essas expressões, por vezes, mantém relações mútuas e/ou de trocas, na medida em que cada uma evolui em si próprias. Relações estas que independem vigilância ou da reflexão mútua. É atribuída à filosofia a função de criar, que não é menos importante que combinações visuais, sonoras ou funções científicas. Sem os intercessores – as criações –, afirma o autor, não há obra.


Outra citação que merece destaque: “Não existe verdade que não “falseie” idéias preestabelecidas”; pensar esta perspectiva é sublinhar que os discursos são elaborados por um determinado grupo para atender a seus próprios interesses: “o que quer dizer que cada um compreende à sua maneira a noção proposta pelo outro”. Deleuze ainda faz críticas a outros problemas contemporâneos, como modo de fazer Literatura no dias de hoje, a crise da literatura. O intuito primeiro desses escritores, diz o autor, é o mercado e para tanto, para fazerem de seus livros best-sellers, esses escritores imitam uns aos outros: “Toda a arte de hoje torna-se cada dia mais infantil. Cada um tem o desejo louco de ser o mais infantil possível. Não digo ingênuo: infantil. Hoje a arte é ou a queixa ou crueldade”. Ele diz ainda que os jornalistas são, em parte, responsáveis por essa crise, pois estes seriam prepotentes ao ponto de acharem-se preparados para escreverem qualquer coisa, mas terminam por fazerem de seus livros simples relatos de viagens, de reportagens: “É uma”secundarização” do livro que toma o aspecto de uma promoção pelo mercado”.


A mídia é responsabilizada pela imposição da idéia de proposições demasiadas entre os casais, onde os indivíduos perdem o direito de ficarem em silêncio, devendo falar até mesmo o que não tem o menor interesse. Esse autor ainda propõe a união entre a literatura e a expressão audiovisual para se oporem à instauração da produção plastificada da indústria cultural. E nos faz refletir sobre como é “impressionante que esse novo tipo de doença [doença autoimune] coincida com a política ou a estratégia mundiais”, em que a guerra tem origens internas e externas.


Infere-se, portanto, a partir dessa leitura, que a Filosofia deva se movimentar, criar novos conceitos – já que eles impedem que o pensamento seja uma simples opinião – que transponham seu campo de atuação; que possam passear pela arte, pela ciência ou qualquer outro tipo de manifestação/expressão. Mesmo em tempos difíceis, pois a criação se faz em “gargalos de estrangulamento”, criando ao mesmo tempo, seu impossível e possível. Ainda que esse estilo – movimento do conceito em filosofia – necessite de silêncio, que seja forte o bastante para abrir as palavras, fazendo da filosofia uma ciência mais acessível e inteligível, já que ela se dirige diretamente aos não- filósofos.

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