A música se constitui numa das mais ricas e difundidas atividades culturais da sociedade atual. No entanto, embora estejamos o tempo todo imersos num mundo povoado por músicas de todas as espécies, a nossa relação com a música é algo extremamente difícil de ser formalizada e cuja compreensão se dá na esfera do sensível e do intuitivo.
Em seu ensaio, O Fetichismo na Música e a Regressão na Audição, Theodro W. Adorno - filósofo e sociólogo alemão, projetou-se como um dos críticos mais ácidos dos modernos meios de comunicação de massa - diz que a desconcentração reflete a incapacidade do ouvinte moderno de manter a tensão e a atenção durante o processo de escuta. A música tornou-se, segundo esse autor, um fetiche, um prazer momentâneo. Ele afirma ainda que a indústria cultural produz a música “ligeira” para suprir uma necessidade ilusória que “completa” os indivíduos num determinado momento, e que depois esses mesmos indivíduos sentirão a necessidade de uma nova “droga”. Daí nasceria a incapacidade deles distinguirem o que ouvem: o indivíduo não sabe classificar qual música é séria – também chamada de música clássica, que tenta fugir da banalidade, onde se tem a preocupação com a métrica e com a melodia – e acabam relacionando-se com as musica fúteis.
Para Adorno a música séria não deveria ser ouvida por qualquer pessoa nem de qualquer jeito; pois é preciso dar uma atenção especial a mesma por se tratar de um processo sério de questionamentos psicológicos. Por isso, ele contra a massificação e a favor da elitização da música erudita. Ele defende que a música “verdadeira” deve ser fechada à uma elite que tem condição de ouvir e vivenciar uma cultura não massificada e, portanto, não alienante. É verdade que o ouvinte se tornou então uma espécie de colecionador que conhece não a música, mas fragmentos dela. É capaz de assobiar uma melodia que escutou no rádio, se encantar com um trecho de canção ao passar por uma loja, mas cada vez menos tem tempo e iniciativa de realizar uma escuta atenta e imersiva. Além disso, deixa de fazer um exercício essencial para a compreensão de qualquer produto cultural: o exercício da contextualização.
No entanto, o enclausuramento de qualquer expressão cultural, por determinados grupos sociais, não é interessante. A massificação de alguns produtos 'elitizados', que sofrem algumas modificações durante esse processo, abre a possibilidade das pessoas simples conhecerem o trabalho de grandes músicos, pintores, intelectuais, etc, e de estudos que tratem das diversas visões sobre estes produtos. O lado negativo, dessas modificações, a partir da massificação, é que “ao esvaziar a obra de seu conteúdo, a indústria cultural massificadora oculta a essência da experiência estética”[1]
[1]JÚNIOR, Reynaldo Roels. Mutações da Arte na Modernidade. Gávea, Rio de Janeiro, setembro de 1985. Disponível em: .
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